Procuradoria queria esclarecimentos; reitoria interpretou como ordem e acabou transformando um ofício em sentença.
Documento do MPF com pedido de informações interpretado como regra pela Reitoria compromete estudantes e gera protestos do DCE/Fotos: Divulgação.
Universidade Federal do Pará (UFPA) conseguiu o improvável: transformar um pedido de informação do Ministério Público Federal em uma decisão administrativa de peso - e sem volta imediata. O ofício da Procuradoria, identificado como Notícia de Fato nº 1.23.000.000481/2024-81, apenas requisitava explicações sobre o critério de bonificação regional no Sistema de Seleção Unificada.
Mas, em vez de responder ao questionamento, a Reitoria optou por extinguir o bônus de 10% concedido a candidatos da Amazônia Legal.
O episódio, que já provoca reações entre docentes, discentes e entidades de representação estudantil, evidencia um descompasso grave entre o que o MPF solicitou e o que a universidade executou. O Ministério Público não determinou a suspensão, muito menos recomendou a eliminação do mecanismo. A UFPA, contudo, leu o documento como se fosse ordem de autoridade judicial - e, sem responder formalmente à Procuradoria, decretou o fim do benefício.
Nos bastidores, a interpretação da Reitoria é vista como ato precipitado. O bônus regional, criado para equilibrar as desigualdades geográficas no acesso à universidade, foi alvo de análises anteriores, todas confirmando sua legalidade e legitimidade.
A UFPA, sem aparente deliberação do Conselho Superior, eliminou a política que há anos garante a presença de estudantes do interior amazônico nos cursos mais disputados - e o fez com base em um pedido de “justificativa”, não em decisão judicial, portaria ou recomendação formal.
A dúvida que agora paira sobre Belém é simples: quem mandou tirar o bônus?
O MPF garante que não foi ele. O documento mostra, com todas as letras, que a Procuradoria apenas queria entender a base normativa e o impacto da política de bonificação. A extinção, portanto, nasceu dentro da própria UFPA, num misto de zelo excessivo e leitura apressada do texto oficial.
Juristas ouvidos pela Coluna Olavo Dutra apontam que, ao eliminar um benefício de impacto coletivo sem resposta formal à autoridade requisitante, a UFPA pode ter ferido princípios básicos da administração pública: motivação, publicidade e razoabilidade.
O erro é duplo: de forma, por não justificar a decisão em ato próprio, e de conteúdo, por confundir uma requisição de informação com ordem de suspensão.
Se confirmada a ausência de resposta ao MPF, abre-se espaço para questionamentos administrativos e até judiciais. O Diretório Central dos Estudantes já acionou a Reitoria pedindo cópia integral dos documentos e das deliberações que levaram à decisão. Nenhuma foi apresentada até agora.
Enquanto o MPF aguarda uma resposta formal - que deveria ter vindo antes de qualquer medida -, a Reitoria mantém silêncio. Dentro da UFPA, o episódio é tratado com embaraço. O erro de interpretação pode ter consequências maiores do que o cancelamento do bônus: pode comprometer a credibilidade institucional da maior universidade da Amazônia em temas de autonomia e gestão pública.
Resumo da ópera bufa: o MPF pediu explicações, a UFPA entendeu “extinção” - e assim, de ofício em ofício, a universidade mais antiga da Amazônia criou um problema jurídico, político e simbólico que não estava no papel, mas agora está na pauta.

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Jornalista, natural de Belterra, oeste do Pará, com 48 anos de profissão e passagens pelos jornais A Província do Pará, Diário do Pará e O Liberal.
Comentários
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